Chegou a hora de agilizar as competências pedagógicas digitais?

Image: Dirk Wouters / Pixabay.com

A competência pedagógica digital é a capacidade de planear, conduzir e aplicar de forma consistente o ensino assistido pela tecnologia digital. Não se trata de um conjunto fixo de atitudes, conhecimentos e competências – aprendemos isso rapidamente (talvez até a custo) no ano letivo anterior. Então, como podem os professores construir resiliência contra crises futuras? A especialista em educação digital Lidija Kralj partilha as suas opiniões.

Todos os professores estão mais ou menos familiarizados com a competência pedagógica digital. No entanto, é importante avaliá-la e revê-la continuamente, com base na teoria, na investigação atual e na experiência comprovada, dando sempre prioridade à aprendizagem dos alunos.

Abordagem ágil na educação

Manifesto Ágil fala sobre melhores formas de desenvolvimento de programas informáticos, que podemos aplicar à educação. As principais ideias da abordagem ágil são (traduzidas para um contexto educativo):

  • pessoas e interações sobre processos e ferramentas;
  • atividades/abordagem de trabalho relativamente a documentação abrangente;
  • colaboração com os alunos sobre os resultados da aprendizagem;
  • responder à mudança seguindo um plano.

Aplicar uma abordagem semelhante ao desenvolvimento da competência pedagógica digital dos professores significa que os professores precisam de adquirir competência digital, experimentá-la nas suas salas de aula, refletir sobre a atividade, discuti-la com os alunos, decidir como melhorar e utilizá-la novamente. Tal como a metodologia ágil sugere: fazer, obter feedback, melhorar, repetir.

A recente proposta da Comissão Europeia de uma Recomendação do Conselho sobre a aprendizagem mista apoia ainda mais o desenvolvimento de competências digitais dos professores como uma via para a recuperação e preparação dos sistemas educativos. Recomenda cursos de qualificação, módulos pedagógicos e recursos com base na experiência e feedback dos professores. Também incentiva a participação dos professores em projetos exploratórios e a utilização da tecnologia digital para apoiar a aprendizagem em diferentes contextos. Em todas estas medidas, a abordagem ágil revelar-se-á útil.

Professores digitalmente competentes (e resilientes)

A construção de resiliência contra crises futuras também significa que os professores não devem limitar-se a uma mentalidade de alternativas. Como o mundo não é apenas preto ou branco, o ensino não deve ser apenas presencial ou à distância – há muitos níveis intermédios. A aprendizagem mista, conforme descrito na proposta de recomendação do Conselho sobre a aprendizagem mista, acontece quando uma escola, educador ou aluno adota mais de uma abordagem ao processo de aprendizagem, combinando diferentes ferramentas de aprendizagem e contextos de aprendizagem.

A competência digital pedagógica para a aprendizagem mista inclui:

  • saber exprimir-se de formas digitais;
  • definir as nossas expetativas de maneira clara e compreensível e garantir que os alunos as tenham visto;
  • utilizar ferramentas de comunicação eletrónica e repetir mensagens diversas vezes em diferentes canais de comunicação;
  • partilhar recursos de aprendizagem em diferentes formas para torná-los acessíveis a todos os alunos;
  • conhecer as diferentes funcionalidades que os recursos digitais possuem para capacitar os alunos e ajudar os alunos desfavorecidos;
  • incentivar os alunos a utilizar com eficácia todas as formas de comunicação a fim de partilhar as suas ideias e opiniões.

As competências pedagógicas digitais ágeis podem ser desenvolvidas por meio de intercâmbios de pessoal e de aprendizagem entre pares, redes, projetos de colaboração e comunidades de prática ou tirando partido de inovações bem-sucedidas introduzidas ou testadas durante a pandemia, conforme sugerido pela proposta de recomendação do Conselho sobre a aprendizagem mista.

Como o ano letivo anterior nos mostrou, as competências pedagógicas digitais não são um conjunto fixo – precisamos de aprendê-las rapidamente e de aplicá-las com celeridade ainda maior. Mas continuamos a ter de refletir de forma consciente e intencional sobre a competência e experiência adquirida, desenvolvendo a capacidade de explicar por que razão alguma coisa funciona ou não funciona num determinado contexto educativo. Isto também significa que as competências digitais dos professores devem evoluir significativamente – porque chegou claramente a hora de agilizar as competências digitais pedagógicas.

Se pretender ler mais sobre a abordagem ágil na educação, pode começar pelas publicações indicadas na página Web do Agile Research Consortium for Schools (Consórcio de Investigação Ágil para Escolas).


Lidija Kralj

Lidija Kralj é analista superior na European Schoolnet, além de gestora de aprendizagem digital e de projetos, bem como professora de matemática e ciências informáticas, com 30 anos de experiência. É igualmente especialista em grupos de trabalho da Comissão Europeia sobre IA na educação, educação digital e Internet mais segura, bem como do grupo de trabalho da UNESCO sobre IA na educação.